quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Um modelo que acabou (será?)


Uma era que estava começando a se tornar vencedora acabou ontem: a naturalização de um jogador ser mais importante do que o clube. A exaltação do jogador que mais atrai dinheiro, que mais atrai câmeras, que mais atrai fãs, mas que menos atraí títulos. O Ronaldo se arrastando durante 90 minutos, sem ser substituído, contra o tradicionalíssimo Tolima deve abrir os olhos de todos os envolvidos com o futebol sobre o fracasso desse modelo. Essa foi a parte boa.

Ronaldo, não quero saber sobre seu vídeo viral que você insiste – como se todos sofrêssemos de idiotice coletiva ao ler 140 caracteres – em falar sobre uma briga com um francês. Não quero ler suas mensagens acompanhadas com o nome Claro (será que nem ao usar algo tão pessoal quanto o Twitter você pode esquecer que é um garoto-propaganda; tá, eu sei, isto é problema seu). Não quero saber sobre sua casa de milhões e milhões de dólares em São Paulo, escancarada em capas de revistas. Eu só queria que você fosse digno com a camisa do Corinthians. Coisa que você não é há tempos. Não é e não se constrange em não ser.

Sim, nós sabemos que todos os craques tiveram dificuldades de entender quando eram pura decadência. Garrincha é o maior exemplo. Romário, o último, mas ao menos tinha um bom motivo para continuar se arrastando nos campos. Agora, qual motivo você tem em seguir no futebol? Dinheiro, muito dinheiro? Sim, dinheiro é lindo. Mas a maior lição talvez seja de Mano Brown: “Dinheiro é bom, eu gosto sim, se essa é a pergunta / Mas dona Ana fez de mim um homem, não uma puta”.

Não soa que você continue por amor ao futebol. Você não parece fazer questão de entrar em campo. Passa meses sem jogar uma única partida. Quando entra, é evidente sua tremenda má-vontade de jogar futebol. Dá suas corridinhas pra cá, outras pra lá. Se faz gol apenas eleva as duas mãos em direção à Fiel, burocraticamente. Se não faz dá explicações grosseiras a outros repórteres (“Cê tá me encoxando aí!”), mas sempre é polido com uma tal emissora carioca. E ontem foi assustador. Primeiro, falou qualquer impropério a um outro repórter. Depois, inacreditavelmente, chegou a culpar o campo colombiano pela derrota. O zero a zero no primeiro jogo também foi culpa do gramado do Pacaembu?

Enfim, Ronaldo, sem querer me estender, apenas espero que você pare de vestir a camisa do Corinthians. Por mais batido que isso seja, a nossa camisa é maior que você e só merece usá-la quem quer pô-la com o mínimo de dignidade. Não se brinca assim com tanto sentimento. E aos outros clubes, sugiro não caíam na armadilha de querer uma superestrela descompromissada. Quem ligou a tevê ontem sabe que este modelo não deu certo. Os flamenguistas – que ficaram tão tristes com a não ida do Ronaldo ao clube – escaparam de uma boa. Ah, não. Esqueci do Ronaldinho...

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