O jogo estava perto do
encerramento no Pacaembu. Mais uma partida normal, mais uma vitória
sobre o Flamengo, se a peleja válida pela segunda rodada do
Campeonato Brasileiro não representasse a despedida oficial dos
corinthianos de sua casa por décadas, para, depois, fazerem nova
morada no moderno estádio da zona leste.
Ao trilhar do apito do
árbitro, a torcida ficou desnorteada. Eu estava ali e vi. Sem nada
combinado, sem a intervenção do histérico departamento de
marketing do Corinthians, os 39 mil alvinegros presentes ao estádio
do povo paulistano não derem um passo sequer em direção à saída.
Eram 39 mil saudosistas e desorientados corinthianos.
A maioria ficou
estática, admirando o gramado, a curva arquitetônica acima do
portão principal, os refletores, qualquer detalhe que passou
despercebido e que no dia representava uma dolorida última olhada.
Outros andavam de um lado para o outro, como para pisar de forma
derradeira no piso frio do cimento do Tobogã.
Não havia cantorias
nem provas efusivas de amor. Era a sensação de quem compra uma bela
casa nova, após muita labuta, mas se despedaça o coração de
largar a saudosa maloca alugada. Foram uns 10 minutos de puro e
absoluto silêncio. Interrompido, apenas, por um sujeito mais
sentimental ao meu lado, de uns 40 e poucos anos, que chorava de
soluçar.
Eu comecei a subir os
degraus em direção à saída. Quando entrei na passarela que leva ao
portão, ouvi o primeiro cidadão ao meu lado a murmurar: “Timão
eô, Timão eô, Timão eooô”. Não que a mesma cena já não
tivesse se repetido mil vezes. Mas nunca com tanto respeito e
reverência, como se fosse em uma procissão. É isso que aconteceu
na saída dos torcedores do Tobogã: a mais sincera procissão em
reverência a um dos mais importantes símbolos religiosos de boa
parte dos paulistanos.
O “Timão eô” se
tornou um exclusivo uníssono. Ninguém ousou gritar sequer um “Vai
Corinthians!”. Foi um mantra como deve ser, com respeito e
profundidade. O coro acompanhou os pretos e os brancos até o caminho
da rua. Dali, cada um seguiu a sua rota. Com a melancolia de saber
que nunca mais fariam o caminho inverso. O Pacaembu se tornou apenas
uma foto no coração. Mas como dói.