sexta-feira, 13 de julho de 2012

Corinthians com Libertadores é o fim da cultura do futebol paulista




O Corinthians não ter Libertadores era um patrimônio cultural imaterial de São Paulo. Era algo tombado pelo Iphan dos bares, bairros e firmas, sagrado, mantido pelas torcidas rivais e pelos próprios corinthianos. Havia um sentimento de perenidade no ar, quase um Cristo Redentor paulistano. De repente, não mais que de repente, aconteceu algo da mesma proporção de acabarem com o sotaque da Mooca, picharem o teatro Municipal, construírem um arranha-céu no Ibirapuera ou mandarem abaixo o Pateo do Colegio. A plaquinha corinthiana foi fixada no troféu mais cobiçado da América do Sul.

Ser corinthiano desde então se tornou algo diferente. Hoje saía em algum bar e diga que você é corinthiano. No máximo ouvirá um “legal” sem muito ânimo, de um torcedor adversário. Não há mais a batida mas inescapável pergunta: “Quantas Libertadores vocês têm?”. Responderemos “uma, e invicto”, e acabará o assunto. Já o corinthiano, ao te reconhecer como um par, abrirá um sorriso e apertará sua mão. Mas sem muito a falar. Não sinto mais aquela lealdade dos fracassados, o rincão emocional mais confortável que há. Todos estamos perdidos.

Sequer o título do Mundial de Clubes de 2000 é chamado mais de Torneio de Verão. Qualquer provocação esvaiu-se. As piadas aposentaram-se. A cidade está mais insossa. Mataram o orgulho de ser perdedor. O maior patrimônio cultural do futebol de São Paulo morreu com as duas bolas de Emerson estufando as redes do goleiro do Boca Juniors.

Os diretores da Conmebol precisam se reunir urgentemente para criar um outro campeonato, sei lá, a Superlibertadores, e que o Palmeiras, São Paulo e Santos se tornem campeões na primeira década. O Corinthians só deve conquistar essa faixa daqui a 100 anos. Não podemos permitir que a cultura futebolística da cidade morra de uma hora pra outra. Nossos filhos, netos e bisnetos agradecerão.