segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Existe moda em SP

A moda, Ah, a moda. Uma marca de identidade da pessoa tão importante quanto sua impressão digital, dizem uns. Uma forma de se comunicar com o mundo, garantem outros.

Os estilos vistos pelas ruas de São Paulo são vastos. Há os que se vestem de camisa polo com algum bichinho do lado esquerdo – antes era um cavalo, agora há um veadinho. Gostam de gastar bastante mas não perdem a promoção intitulada Terça de Chope em Dobro. Lotam os bares da Vila Olímpia quando rola essa mamata. As mulheres se vestem com calças justas com estampas de animais silvestres, tipo onça ou zebrinha. Todos se divertem demais ao lembrar o que aprontaram no tempo da facul. As moças também têm no armário uma mini-camisa do Brasil para o risco de haver um jogo da seleção.

Há os tipos batizados por este que escreve de Bem Brasil. São pessoas que gostam de maracatu, samba, coco, baião, xote, xaxado ou qualquer outro gênero musical brasileiro surgido num rincão bem distante de São Paulo. E dá-lhe camisas de algodão abertas, exibindo os pelos do peito, chapéus panamás e uma corrente com um crucifixo de madeira. A sandália, indubitavelmente, é de couro, mostrando um dedão feio.

As meninas deste grupo precisam usar uma saia que venha com a função “rodar enquanto dança”. Há no mínimo quatro cores nas saias, com temas abstratos mas que remetem à temática nordestina. E elas surpreendentemente criaram uma chapinha ao contrário. Em vez de alisar, encaracolam os cabelos. Fica lindo.

O pessoal do movimento que clama por amor em SP é parecido com o grupo anterior, mas um pouco mais sofisticado. Sobretudo, todas as meninas precisam ter na nécessaire um batom vermelho, bem vermelho, mais vermelho que a bandeira do Partido Comunista. São também antenadas com o que acontece em Londres, Barcelona e Nova Iorque. Usam vestidos plissados (é esse o nome?) um pouco acima do joelho decorado com algum bichinho fofo (em geral são pássaros), meia-calça escura e botinhas bonitas. A bota pode ser de couro ou de algum modelo retrô de uma marca esportiva consagrada, como Nike, Adidas ou Puma. São fãs sobretudo de Criolo. Os caras usam camisa rosa.

Ah, e há também o grupo dos que se vestem normal. A vantagem destes é que podem entrar e sair de todos os grupos anteriores sem ser percebidos. Recomendo.

sábado, 20 de outubro de 2012

"Tinha que ser no Brasil"

Conte comigo: há 209 países no mundo de acordo com a Fifa – que é a entidade oficial para saber a quantidade de países existentes (afinal, um país sem futebol não merece esse título). Agora vamos, continente por continente, comparar os outros países com o Brasil. Quantos realmente acreditamos que estão a frente de nós na união de fatores como desenvolvimento econômico, liberdades individuais, democracia, diversidade cultural, bem-estar social, força esportiva e, sobretudo, relevância planetária. Em resumo, quantos são mais importantes que o Brasil.

No continente americano, eu destaco dois de cara: Estados Unidos e Canadá. Há alguns fatores que põem México, Cuba, Argentina e Chile a nossa frente mas, no frigir dos ovos, são só Estados Unidos e Canadá mesmo. Contagem final: dois.

Na África, quantos países são mais desenvolvidos que o Brasil? Nas minhas contas, nenhum, apesar de haver nações importantes no cenário internacional, como África do Sul, Nigéria e Egito. Contagem final: zero.

Na Oceania, um é a Austrália, outro é a Nova Zelândia. Não lembro de mais nenhum. Não ficamos sequer sabendo o que acontece nas outras ilhas do Pacífico (e ainda nos sentimos ofendidos quando um estrangeiro não sabe a capital do Brasil, mas essa é outra história). Contagem final: dois.

Na Ásia, o Japão é uma potência inconteste. A Coreia do Sul é outra. E ainda há a China, com o seu pouco admirável modelo de crescimento econômico, que até nos faz acreditar que os Estados Unidos é um país bacana. Nenhum outro me parece ser mais relevante que o Brasil. Contagem final: três.

Na Europa a lista é maior. Numa tacada só é possível destacar Inglaterra, França, Holanda, Dinamarca, Finlândia, Noruega, Alemanha, Áustria, Suíça, Bélgica, Suécia e, talvez, Itália e Espanha. Não dá para dizer que Albânia, Lituânia e Ucrânia são nações mais bacanas que o Brasil, não? A não ser que você seja albanês, lituano ou ucraniano. Contagem final, 13, e olhe lá.

Ou seja, quando você diz de boca cheia sobre como o Brasil é ruim e como esta nação é um motivo de vergonha para o mundo, na verdade está comparando com apenas 20 outros países do planeta, e quase todos na Europa. Os outros 189 não parecem estar adiante do Brasil em muita coisa. E nem têm cinco Copas do Mundo.

Não estou ignorando a força e a importância dos outros países. A Alemanha está atrás de nós em vários aspectos, como Angola pode estar à frente em muitos outros. Só comparando-os com a régua que aprendemos a hierarquizar as nações. E desvelando, da forma mais simples do mundo, a vira-latice geral do povo brasileiro para falar de nós mesmos.

O País cresce, as diferenças diminuem e cada vez mais temos papel de destaque no cenário internacional. Estamos entre as oito economias mais importantes do planeta, há distribuição de renda como nunca houve e somos sede dos eventos mais importantes do mundo do esporte.

Há também uma invasão de estrangeiros – de haitianos a franceses – que vêm viver por estas terras em busca de uma vida melhor. Igual a invasão europeia que houve durante toda a nossa história. Afinal, o Brasil só tem metade de brancos em sua população porque os europeus sempre vieram aos milhões para estas terras. E ninguém imigra em busca de algo pior. A Europa teve em sua história graves problemas sociais. Tal qual o Brasil.

Não, não somos o melhor país do mundo. Mas é muito mais fácil subir 20 posições do que despencar 188, que é o lugar que muita gente acredita em que estamos com o nosso pessimismo e complexo de inferioridade eternos. Com esse sentimento perene de que merecemos viver no andar de baixo.

Quando ouço expressões como “tinha que ser no Brasil” ou “no Brasil nada funciona”, a única pergunta que me dá vontade de fazer é: “Muito bem. Então me explique como as coisas funcionam bem na Albânia, no Vietnã e na Eslovênia”.