terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Moto que nunca para

Eu parei e tudo se mexeu. Meus cabelos caíram, perderam o brilho, a morte deixou de ser impossível, e o mundo se movimentou. Agora não preciso imaginar o que é ser um velho acabado. É menos ruim do que pensei, mas é ruim.

Em 2017 vivi apavorado e comemorei um hexa no dia do meu aniversário. Em 2018 não lembro, mas teve eleições no fim. Em 2019 eu trabalhei muito, e teve ela, que vai-e-volta. Em 2020 vocês sabem, e estou aqui de máscara dentro de casa.

Outro dia o psicólogo (ah, teve isso de 2019 para cá também) me fez falar mais do que o normal, e deu vontade de escrever. Talvez escrever é reencontrar a si do tempo que não tinha medo do ridículo, e por isso era sempre ridículo. Não é bom ser ridículo, porém. “Parem de romantizar”, como dizem os filhos da puta do Twitter.

Por que não falei de 2016? Naquele ano, lembro bem, eu estava ainda com um dos pés em outra era, e tudo fazia mais sentido do que devia. Depois, temos que ter a humildade de aceitar as mudanças, até por não fazer diferença a nossa aceitação. “Gostar de nós, tanto faz, tanto fez”. Eu só parei e deixei a moto-contínuo agir. Ela agiu, e tudo se mexeu em minha volta.

Observação: quando eu era pequeno achava que moto-contínuo fosse uma motocicleta que nunca para.

Você está linda, mais amargurada, mas de um jeito diferente – às vezes parece outra pessoa. Tudo mudou do tempo do dedo em riste, das certezas grandiosas, um José antes de ser julgado pelo itabirano famoso. Tenho a teoria que temos um espaço de quatro anos em que somos nós, a câmera foca e tudo se anima. Antes, esperamos por esse tempo e, depois, vivemos para homenagear o que já fomos. É bom que passa, porque viver no palco é desnecessário.

Não sei mais fazer fim em texto.