quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

"Mais amor, por favor"


Sempre fiz pouco caso - e continuo fazendo - dessas inscrições que pipocam pelas ruas de São Paulo: "O amor é importante, porra" e "Mais amor, por favor". Eu sempre li por trás daquelas linhas: "Volta pra mim, porra" e "Acredita que eu vou mudar, por favor". O que esses sujeitos querem, afinal?

Soa como um bando de gente que tomou fora, não aceitou e saiu por aí posando de vítima da frieza dos tempos modernos. O sentimento do amor romântico não acabou, pelo contrário. O que não falta por aí é coração machucado. Quem chegou aos 30, 30 e poucos, não tem apenas um amor para lembrar, mas vários. Gente que lembra que 2002 era 2002 porque estava com determinada pessoa. Só não há mais a figura do príncipe encantado ou da rainha do lar dócil, e parece que esse pessoal quer os tempos antigos de volta.Um tempo que havia um amor para a vida inteira. Um amor de desejos reprimidos, machismo naturalizado e infelicidade. Nélson Rodrigues não me deixa mentir. Suas vovós não me deixam mentir, por trás daqueles cachos fofos e semblantes resignados.

Hoje é preciso reconstruir o conceito de amor se quiser um pingo de chance que dê certo. Entender que todo grande amor só é grande se for recíproco. Há de enxergar de olhos bem abertos a pessoa que está ao seu lado, para personalizar o amor, juntar os erros de ambos para abrir um caminho só a dois. Se possível, leve. Mas não caia da armadilha de quem propaga por aí: "O importante é a felicidade", com um ar de quem acabou com o papo. Não, não é. Felicidade é um termo abstrato, não existe. Mostre-me uma pessoa que seja sinônimo de felicidade que te mostro um cachorro azul, sem ser dos gibis. Aí dizem: "O importante é estar em paz". Errado de novo. A paz sem amor não é paz. É solidão austera.

O amor é importante, sim, mas não precisa chacoalhar ninguém pra lembrar disso. Ele vem e vai naturalmente. O drama somos nós. Não precisa prendê-lo, enquadrá-lo em sistemas pré-concebidos.  O amor existe se há tédio gostoso de ficar deitado com alguém no sofá, com as pernas entrelaçadas. O resto é novela das oito.

Não é preciso pedir mais amor. É preciso esquecer o modo antigo de amar. Há muitas outras formas. Menos ficar choramingando nos muros da cidade. Quer mais amor? Reaprenda a amar, porra.

11 comentários:

Vanessa. disse...

como diria Drummond, que eu não gosto tanto assim e nem por isso deixa de ter razão: "Não facilite com a palavra amor."

Marcela Egito disse...

Muito sincero e bonito o texto. O cachorro azul é a melhor parte. ( eu tenho um de pelúcia, talvez possa ser comparada com alguma forma de amor que só existe em nossas ilusões)

Vou deixar meu blog por aqui. É meloso e cheio de amor. hehehe ( Meio brega, mas pode falar mal)

beijo grande e gostei daqui :)

Marcela Egito disse...

www.cincominutosparaler.blogspot.com

Paloma Bianchi disse...

tu escreve bem, hein??? dorei

Ana Iris disse...

Adorei o texto, moro em Maceió mas essas frases de sampa chegaram até meus ouvidos atrvez do rap...mas enfim vou deixar o meu por aqi http://yrissantos.blogspot.com/
nada de frase pronta 'eu' de forma escrita pura.

gil wellington disse...

bem, da hora o texto, um pouco feminista porem, mas realista, gosto disso ...

Unknown disse...

HIPÓCRITA ! ! !
ENTÃO O SEU PENSAMENTO É O CERTO E JÁ ERA , O RESTO É RESTO .
SE NÃO CURTE RESPEITA PELO MENOS.
"PORRA"

Dנυℓιєтє disse...

Concordo totalmente com a Renata.
É exatamente a respeito do amor ao próximo que essas manifestação urbana se refere, e não ao relacionamento de homem e mulher. Acredito que a falta de amor nas pessoas é uma das grandes causas das barbaridades desse mundo.

Tavares disse...

Concordo e reafirmo o que Renata e Djuliete disse. Você fez uma interpretação errada sobre a manifestação urbana "Mais amor, por favor". Ao contrário do que você pensou, o objetivo dessa manifestação é provocar uma reflexão e conscientização social a respeito do caos que vivemos hoje em dia no que se refere as relações humanas. É cada vez mais difícil encontrar pessoas solidárias, que tenham compaixão e sejam sensíveis ao próximo. "Mais amor, por favor" é simplesmente um apelo para que você enxergue o outro como a si próprio, e ame o seu semelhante. Se cada um de nós nos dispuséssemos a amar mais o seu próximo, com certeza o preconceito, o racismo, a homofobia, entre outras mazelas sociais dimuniriam, e é esse o objetivo da manifestação. Pense sobre isso e "Mais amor, por favor" para todos nós.

Unknown disse...

Oi, tudo bem? Acho que nos tempos de hoje e em meio a essa cidade de P. o apelo não é assim tão desnecessário quanto parece...
Em meio a tanta correria, individualismo, concorrência, pressão, stress, egoísmo e etc., um pouco mais de amor nunca é demais!
Acho mesmo que isso está em falta nos dias de hoje, "mais amor, por favor", ou "amor é importante, porra"!
É exatamente o que todos "dizem" sem ao menos expressarem sequer uma palavra!

Unknown disse...

Amor nunca é e nem será demais..e sim, é o que falta no mundo atual...