domingo, 4 de janeiro de 2015

I apologize

Eu preciso pedir desculpas. Eu errei, eu errei feio. Vamos direto aos fatos: o frio não é melhor que o calor. Eu passei a vida reclamando da temperatura alta de São Paulo no verão. Agora, que moro a milhas de onde praguejei um bocado contra os 30 e poucos graus estampados nos relógios da cidade, sei que a alegria é oposta. Não há preço poder suar pelas ruas paulistanas e tentar convencer o chefe a trabalhar de bermuda. O calor é insuperável. Por favor, me desculpem, mesmo.

Estou em San Francisco/Berkeley há um mês e pouco. Eu gosto. Eu moraria aqui para sempre se estivesse no Brasil e não fizesse frio. A temperatura estar baixa não é o maior problema - o mau é isso ser todo dia. É um acordar e dormir sabendo que as coisas não vão mudar. O frio diário só não é pior que ouvir de brasileiros como por estas terras tudo funciona - do tamanho da moeda de 10 centavos ao preço do Iphone. Os americanos são muito melhores. Só esqueceram de combinar com a natureza.

A Bay Area sequer é um dos lugares mais gelados dos Estados Unidos, nem neve há. Talvez porque os latinos esquentaram a região. Há torcedores de futebol americano a sério, gente fazendo rap no metrô, hipster não muito insuportáveis criando suas coisas em espaços pequenos, apresentações de músicas boas e cerveja forte. Entre barracas de cachorros-quentes e bares só com cadeiras no balcão, muita coisa acontece. Andar sem parar pelas ruas da cidade é uma coisa boa a se fazer - quanto mais se anda menos se perde, um mistério difícil de explicar.

Num certo dia subi-e-desci as ladeiras de San Francisco com uma menina ruiva de voz bonita e nome complicado com paciência para entender a minha pronúncia sofrível. Ela me levou a um mirante escondido e pouco visitado da cidade, vimos na tevê o maior clássico da região de futebol americano (a partir de então sou Raiders desde criancinha) e expliquei a ela sobre o Corinthians, o Fagner e os Racionais. Ela gostou, mas precisou ir. Só o frio insiste em ficar.

Já aprendi uma par de palavras e expressões novas neste um mês e pouquinho: each, pick up, pound, pilsner beer, turn right, hangover, microwave, I used to, might, I had been (sim, vim com inglês bem básico). Quase que consigo entender a maioria das palavras dos programas de televisão - mesmo que eu ainda não saiba o significado. Bato papos simples e faço mímicas complexas com os companheiros de escola. Pedir cerveja, comida e informações de ônibus já está moleza. Consigo também explicar como o beisebol talvez seja o esporte mais idiota do planeta. Por sorte, todos com os quais falei de fato preferiam o futebol americano ou o basquete, dois esportes com E maiúsculo. Mas beisebol, meus amigos, é pior que ser escalador de montanhas, como diria um grande jornalista de décadas passadas.

É um prazer aprender cada palavra nova - é para isso que aqui estou. Mas nada tão confort place quanto o meu idioma. A língua portuguesa é a minha pátria. A minha pátria é também o meu sol. Guardem um pouco dele para mim que já já eu volto.