sábado, 22 de outubro de 2011

Todos nós somos um pouco Rafinha Bastos


Rafinha Bastos é um idiota. Ponto. Qualquer pessoa que esteja com as parcelas do discernimento em dia sabe que ele passou, faz tempo, de um mero piadista para se tornar alguém que propaga os mais baixos preconceitos. Um humor que se baseia na ofensa gratuita e no constrangimento. Mas você já pensou o quanto todos nós que usamos a internet temos um pouco de Rafinha Bastos? Afinal, os comentários que fazemos sobre pessoas que são ou se tornaram conhecidas na internet é de uma violência sem fim. Independente da pessoa ter feito algo errado ou não. É sempre desproporcional a acidez e a virulência dos comentários. Você faz a mínima ideia como se sentiram as protagonistas desse coro virtual?

O caso recente mais notório é o da cantora Vanusa, que cometeu o crime de esquecer a letra do hino nacional durante uma cerimônia da Assembleia Legislativa de São Paulo. Sim, foi engraçado, mas a ânsia por nos tornar piadistas fez cada um de nós jogar um pouco mais de terra na carreira de 40 anos da cantora. Ela, que era “a musa do iê-iê-iê”, a “rainha da televisão”, a vendedora de mais de um milhão de discos, se tornou apenas “a cantora que errou o hino”. Todos nós nos sentimos no direito de achincalhá-la. E esse erro - que segundo ela foi causado por remédios para labirintite - se tornou algo determinante da sua carreira e personalidade. Ela sofreu muito. E nós fomos sádicos.

Outro caso mais polêmico é o da estudante de direito Mayara Petruso. Logo após o resultado da campanha eleitoral do ano passado, ela escreveu: “Faça um favor a SP, mate um nordestino afogado”, indicando que a “culpa” da Dilma ter ganho é a simpatia que o eleitorado nordestino tem por ela e por Lula. Comentário triste e criminoso, mas que tomou projeção absurda, jogando o foco em uma única pessoa para combater um pensamento escroto e arraigado de parte da população.

Mayara foi achincalhada, ofendida e ameaçada pelas redes sociais, e era para ser um caso de Justiça. Perdeu o emprego e, se eu fosse ela, iria no cartório para trocar de nome. Afinal, acho que pouca gente daria emprego para um currículo que estivesse grafado “Mayara Petruso”. E nós, as pessoas de bom-senso, as pessoas indignadas, nos igualamos à população enfurecida que lincha o bandido antes da polícia chegar.

A pergunta é: em troca da sua indignação ou da sua piada, houve alguém que sofreu bastante. Você pensou neles por pelo menos um segundo antes de disparar seu espírito crítico ou fanfarrão no Twitter, ou apenas decidiu se igualar ao Rafinha Bastos?