quarta-feira, 4 de maio de 2011

Um filho teu não foge à luta

Não importa se é Paris, Madri ou Buenos Aires. É fácil identificar se um homem é brasileiro em terras alienígenas: ele estará, indubitavelmente, com a camisa do seu time de coração. A explicação é simples. Em outras plagas, o homem da terra de Câmara Cascudo sente-se uma espécie embaixador de seu clube. É quase um dever cívico ostentar a camisa da sua agremiação futebolística.

As mulheres acompanhantes se irritam, claro. Ainda mais no exterior as almas madamas se afloram. Elas gastam às vezes horas para escolher a bolsa, os sapatos, os brincos, dão aquele tapa no cabelo e ainda decidem qual perfume harmonizará essa bagunça toda, pra surgir o sujeito com a camisa dos Gaviões da Fiel. Lembra a adolescência, quando mulheres se equilibravam em salto agulha para aparecer o moleque com boné do Charlotte pra trás.

O resultado de ostentar o manto sagrado, porém, a maioria das vezes é decepcionante. Quando colocamos a camisa do time, vem à cabeça as possíveis situações que a remera pode causar. Imaginamos as pessoas nos parando na rua para perguntar se é verdade que temos a maior torcida do Brasil, quais são nossos rivais ou pelo menos o garçom se lembra de algum craque nosso do passado. Se alguém xingar a gente de gambá na rua já valeu. Mas nada. Em 93% das vezes, os gringos nos veem apenas como pessoas malvestidas.

Descontamos a frustração ao entrar em táxis. Como a tarifa inclui o tema preferido do passageiro, metemo-nos a perguntar para qual clube o chofer torce, para esquentar. O último me disse, animado: “Soy carbonero! Odeo a los putos de Nacional! Y vos?”. Entusiasmado com a abertura, retruquei: “Che, bueno! Mirá mi remera, soy de Corinthians, el más grande de Brasil!”. Esperei reações animadas. O taxista se limitou a dizer: “La equipo que ha jugado Tevez, no?”. Eu disse que sim, e ele mudou de assunto...

Mas a gente é brasileiro, malvestido e não desiste nunca. Seja em óperas, clubes de jazz, restaurantes metidos a besta ou recepções presidenciais, lá estaremos ao menos com um brochezinho do time do coração. É a nossa missão. Mesmo que as mulheres e os gringos não deem a mínima pra isso.